Além  da multa para pagar e do risco de ter o veículo apreendido, o "nome  sujo" na praça e a ameaça de ação judicial: é nessa condição que cerca  de 690 mil inadimplentes ficarão enquadrados na cidade de São Paulo.
Isso porque a gestão Gilberto Kassab adotou duas medidas para apertar o  cerco contra pessoas e empresas que não pagaram em torno de 2 milhões  de multas de trânsito de 2006 a 2009 -cerca de 10% do total aplicado.
Hoje, o principal risco para quem não paga a multa é ter o seu veículo apreendido.
Agora, o devedor irá enfrentar novas ameaças. Uma delas é o protesto em  cartório, o que faz com que ele passe a ter restrições de crédito em  bancos ou em lojas.
Isso será possível após a inscrição da multa na dívida ativa do  município, medida que abre caminho ainda para a cobrança judicial e para  atualizar o valor do débito.
O nome do devedor também irá para o Cadin (cadastro de inadimplentes).  Com isso, ele vai sofrer outras restrições, como não poder receber  dinheiro da prefeitura.
Empresas, por exemplo, ficam impedidas de participar das licitações. Já  pessoas físicas não podem usar os créditos da Nota Fiscal Paulistana,  que será criada este ano.
O valor dos débitos chega a R$ 450 milhões, suficiente para a  prefeitura implantar dois de seus maiores projetos viários: o túnel da  r. Sena Madureira à av. Ricardo Jafet (Vila Mariana) e a ligação das  avenidas Eng. Caetano Álvares e Cruzeiro do Sul (Santana).
"O objetivo principal é regularizar a situação dos veículos", diz o  coronel Valter de Oliveira, diretor do DSV (Departamento do Sistema  Viário). As medidas entraram em vigor no último dia 2. Após notificação,  os devedores terão 30 dias para defesa.
FISCALIZAÇÃO
Para José Almeida Sobrinho, professor de trânsito na Academia da  Polícia Civil de SP, falta fiscalização. "Isso só acabará quando se  fizer blitze com a assiduidade que o volume do problema exige."
Para Maurício Januzzi Santos, presidente da Comissão de Assistência  Judiciária da OAB-SP, embora legais, as medidas são um "equívoco".
"O poder público tem outras formas de fazer a cobrança que não seja expondo a pessoa ao constrangimento."
Já para o advogado Marcos Pantaleão, a prefeitura acerta ao apertar o  cerco, pois as multas prescrevem em cinco anos. "O prefeito pode até ser  processado por improbidade, por não ter tomado as providências  cabíveis", diz.